Marisa Pinho*
A Arquitetura tem por finalidade integrar o homem ao meio em que vive. A casa é uma realidade visível e tangível, onde os volumes, as diversas linhas, formas, cores, constituem a atmosfera que envolve o homem e traduz seu modo de vida.
Podemos conhecer muito de quem mora em uma determinada moradia, assim como podemos estruturar dentro da historicidade o modo de viver sob os aspectos culturais e sociais de cada povo, apenas ao analisar a estrutura de uma casa e o seu morar.
A análise das plantas no Setor de Cartografia (FAMS) fez despontar o interesse em saber quando, particularmente, temos uma Arquitetura estruturalmente brasileira.
Assim, como na parte artística, onde os pintores passaram a usar uma linguagem de expressão plástica própria, na música a diversidade na junção de ritmos, harmonias e melodias, na Arquitetura, obteve-se através das formas e funções, as características que expressam o modo de viver e de morar do nosso povo.
Como na miscigenação das raças que originou o povo brasileiro, a Arquitetura recebeu as influências dos colonizadores e a inestimável contribuição dos gentios da terra e dos africanos que trouxeram características particulares às edificações.
Os espaços, as formas e as funções ganharam características que se modificaram, adequando-se ao clima, ao modo de vida e aos períodos históricos, em uma narrativa própria da evolução de cada época. Diante dos fatos históricos ocorridos e aspectos que permearam as realidades culturais e sociais as quais passamos, construiu-se assim a nossa própria identidade com uma releitura dos mais diversos estilos arquitetônicos,
A Arquitetura Brasileira vai contando sua história desde o período colonial e os pequenos povoados, com suas fortificações pelo litoral e sua religiosidade, demonstrada em suas capelas e igrejas.
As edificações apresentam uma estrutura rústica de pedra e cal, de caráter defensivo e de posse, preocupações essas de nossos colonizadores estendidas as formas apresentadas nos fortes e fortalezas e nas próprias moradias por todo o litoral brasileiro.
Observamos através dos aspectos econômicos um interesse em um melhor aproveitamento das terras colonizadas, fazendo surgir os engenhos e os povoados acerca desta atividade.
As casas bandeiristas de taipa de pilão vão surgindo, erguidas pelo caminho, nas paradas dos desbravadores do interior. De grandes alpendres, cômodos espaçosos e arejados, pensados como abrigo e acolhida para os viajantes que vinham com os mesmos objetivos: a busca por expansão de novas terras e a descoberta de riquezas minerais.
Novos povoados, vilas e cidades se ergueram pelo interesse em riquezas minerais, alterando a paisagem das planícies, vales e serras com a expansão territorial.
A Arquitetura Brasileira vai contando sua história desde o período colonial e os pequenos povoados, com suas fortificações pelo litoral e sua religiosidade, demonstrada em suas capelas e igrejas.
Casa do Trem Bélico - Centro Histórico de Santos - SP - Brasil |
As edificações apresentam uma estrutura rústica de pedra e cal, de caráter defensivo e de posse, preocupações essas de nossos colonizadores estendidas as formas apresentadas nos fortes e fortalezas e nas próprias moradias por todo o litoral brasileiro.
Observamos através dos aspectos econômicos um interesse em um melhor aproveitamento das terras colonizadas, fazendo surgir os engenhos e os povoados acerca desta atividade.
Engenho São Jorge dos Erasmos - Santos - SP - Brasil |
As casas bandeiristas de taipa de pilão vão surgindo, erguidas pelo caminho, nas paradas dos desbravadores do interior. De grandes alpendres, cômodos espaçosos e arejados, pensados como abrigo e acolhida para os viajantes que vinham com os mesmos objetivos: a busca por expansão de novas terras e a descoberta de riquezas minerais.
As Dimensões nos cômodos da Casa Bandeirista |
Novos povoados, vilas e cidades se ergueram pelo interesse em riquezas minerais, alterando a paisagem das planícies, vales e serras com a expansão territorial.
Os aspectos socioeconômicos são relevantes e notados nas edificações pelo interior afora.
As fazendas cafeeiras vão se espalhando com a expansão do plantio do café, assim como o aumento territorial e da população, nascida em terra brasilis e que ocupava as Casas Grandes e Senzalas.
As fazendas cafeeiras vão se espalhando com a expansão do plantio do café, assim como o aumento territorial e da população, nascida em terra brasilis e que ocupava as Casas Grandes e Senzalas.
Casarão Fazenda Imperial - no piso inferior abrigou escravos e D.Pedro II no superior |
A influência estrangeira nos fins do século XIX com o processo de imigração, juntou-se a nossa cultura colaborando com a nossa diversidade notada nas mais diversas regiões e cidades que surgiam.
Assim como a Literatura, a Música, as Artes de modo geral, a Arquitetura ganha a partir desse momento sua identidade, adequando-se ao modo e padrão de vida brasileiro.
Assim como a Literatura, a Música, as Artes de modo geral, a Arquitetura ganha a partir desse momento sua identidade, adequando-se ao modo e padrão de vida brasileiro.
Portanto, a casa ganha aspectos de uma identidade própria ao se observar a distribuição espacial de seus diversos setores funcionais, pontos de vista de segregação sexual, posições socioeconômicas, faixas etárias, comportamento ético, preferências políticas e religiosas. Resumindo, toda a formação e evolução da sociedade brasileira se refletem nos setores da casa, configurando-os no tempo e no espaço urbano e rural. Além dos aspectos geográficos e suas diversidades por todo território.
Cabe ao olhar analítico do arquiteto desvendar conjuntamente com pesquisadores e historiadores os aspectos condicionantes da arquitetura erguida. Desde os interesses dos colonizadores na vigilância e segurança, das casinhas de pedras aparentes, caiadas de branco com esquadrias de madeira coloridas, esterótipos da casa portuguesa mediterrânea, porém que sofreram alterações para se tornarem tropicalizadas ou abrasileiradas.
Dos desenhos simples, de uma volumetria básica mostradas no período colonial, as moradias vão se desprendendo da arquitetura rustica e robusta de seus fortes, engenhos de açúcar, erguidos em pedras, para dar lugar as formas mais ornamentadas, as formas moldadas em gessos, as pinturas tromp-l'oiel nas paredes, misturando afrescos e azulejos com cenas do nosso cotidiano.
Nas colunas e detalhes no teto os rocailles¹ em salas decoradas, decorrente da vida mais abastada advinda da riqueza aurífera nos grandes palacetes.
Os salões traziam a influência europeia do Barroco, mas com características nossas, com cenas expressas das riquezas de nossa terra, nossa fauna e flora tão ricas e a ostentação vindas das minas de ouro e da monocultura cafeeira e suas enormes fazendas espalhadas pelo interior de São Paulo.
A vida em sociedade e os padrões sociais do Império também ganham destaque com o surgimento de moradias mais suntuosas da elite e da corte no período. Os palacetes neoclássicos se inserem na malha urbana e a forma "romântica" dos chalés e chácaras, aos moldes dos subúrbios londrinos, nas moradias aos arredores dos centros.
As transformações sociais, a aceleração da urbanização e o adensamento demográfico, foram responsáveis pelo surgimento de cortiços, conhecidos como "cabeças-de-porco", as casas de cômodos, as favelas e as vilas operárias para abrigar a camada mais pobre da população.
A classe média e a pequena burguesia urbana passaram a ocupar as casas de aluguel, com seus porões altos habitáveis e banheiros no fundo de quintais.
No início do século XX os problemas sanitários das cidades devido ao adensamento demográfico, trouxeram a necessidade de um planejamento urbano e da erradicação de cortiços, criando no lugar novas tipologias de casas e uma preocupação com a paisagem urbana.
Aos moldes do Plano Haussmann², cidades como Santos no litoral de São Paulo é totalmente reestruturada e planejada pelo engenheiro sanitarista Saturnino de Brito. A cidade dos canais e que os moradores usam até como ponto de referência de localização.
O bairro como a Vila Belmiro³, que foi outrora uma Vila Operária, ganha um desenho afrancesado em sua malha urbana, privilegiando praças ajardinadas, alamedas, áreas de convívio, ruas com recortes curvos a privilegiar os trajetos dos bondes 17 e 27. Na paisagem urbana as casas geminadas, térreas ou assobradadas.
O surgimento dos edifícios na década de 30, vão aos poucos vencendo a relutância de sua ocupação e se popularizando, abrigando a classe média e dando segmento aos conjuntos habitacionais.
A verticalização das cidades, os tamanhos dos cômodos das habitações, os materiais empregados nas construções, as preocupações ecológicas com o reuso dos recursos naturais, melhor aproveitamento e diminuição de resíduos poluentes são fatores que irão acompanhar a arquitetura e os novos comportamentos que a população vai apresentando.
Contudo, ao falarmos de Arquitetura não nos detemos apenas com o conceito de habitar, mas de narrar a história evolutiva de nossa gente e através dela, contar muito sobre nós. .
Cabe ao olhar analítico do arquiteto desvendar conjuntamente com pesquisadores e historiadores os aspectos condicionantes da arquitetura erguida. Desde os interesses dos colonizadores na vigilância e segurança, das casinhas de pedras aparentes, caiadas de branco com esquadrias de madeira coloridas, esterótipos da casa portuguesa mediterrânea, porém que sofreram alterações para se tornarem tropicalizadas ou abrasileiradas.
Dos desenhos simples, de uma volumetria básica mostradas no período colonial, as moradias vão se desprendendo da arquitetura rustica e robusta de seus fortes, engenhos de açúcar, erguidos em pedras, para dar lugar as formas mais ornamentadas, as formas moldadas em gessos, as pinturas tromp-l'oiel nas paredes, misturando afrescos e azulejos com cenas do nosso cotidiano.
Nas colunas e detalhes no teto os rocailles¹ em salas decoradas, decorrente da vida mais abastada advinda da riqueza aurífera nos grandes palacetes.
Os salões traziam a influência europeia do Barroco, mas com características nossas, com cenas expressas das riquezas de nossa terra, nossa fauna e flora tão ricas e a ostentação vindas das minas de ouro e da monocultura cafeeira e suas enormes fazendas espalhadas pelo interior de São Paulo.
Ouro Preto - MG - Brasil |
A vida em sociedade e os padrões sociais do Império também ganham destaque com o surgimento de moradias mais suntuosas da elite e da corte no período. Os palacetes neoclássicos se inserem na malha urbana e a forma "romântica" dos chalés e chácaras, aos moldes dos subúrbios londrinos, nas moradias aos arredores dos centros.
Fachada do Palacete Neoclássico construído entre 1845 a 1862 - Museu Imperial - Petrópolis- Rj Brasil. |
As transformações sociais, a aceleração da urbanização e o adensamento demográfico, foram responsáveis pelo surgimento de cortiços, conhecidos como "cabeças-de-porco", as casas de cômodos, as favelas e as vilas operárias para abrigar a camada mais pobre da população.
Cortiços na Avenida São Francisco (de Paula) - Santos - SP - Brasil |
A classe média e a pequena burguesia urbana passaram a ocupar as casas de aluguel, com seus porões altos habitáveis e banheiros no fundo de quintais.
No início do século XX os problemas sanitários das cidades devido ao adensamento demográfico, trouxeram a necessidade de um planejamento urbano e da erradicação de cortiços, criando no lugar novas tipologias de casas e uma preocupação com a paisagem urbana.
Aos moldes do Plano Haussmann², cidades como Santos no litoral de São Paulo é totalmente reestruturada e planejada pelo engenheiro sanitarista Saturnino de Brito. A cidade dos canais e que os moradores usam até como ponto de referência de localização.
Plano de Saneamento - Saturnino de Brito - Planta Cartográfica 1910 - Arquivo FAMS |
Vista do Canal 6 na praia de Santos- SP - Brasil |
O bairro como a Vila Belmiro³, que foi outrora uma Vila Operária, ganha um desenho afrancesado em sua malha urbana, privilegiando praças ajardinadas, alamedas, áreas de convívio, ruas com recortes curvos a privilegiar os trajetos dos bondes 17 e 27. Na paisagem urbana as casas geminadas, térreas ou assobradadas.
O surgimento dos edifícios na década de 30, vão aos poucos vencendo a relutância de sua ocupação e se popularizando, abrigando a classe média e dando segmento aos conjuntos habitacionais.
A verticalização das cidades, os tamanhos dos cômodos das habitações, os materiais empregados nas construções, as preocupações ecológicas com o reuso dos recursos naturais, melhor aproveitamento e diminuição de resíduos poluentes são fatores que irão acompanhar a arquitetura e os novos comportamentos que a população vai apresentando.
Vista dos Edifícios da Orla de Santos - SP - Brasil |
Contudo, ao falarmos de Arquitetura não nos detemos apenas com o conceito de habitar, mas de narrar a história evolutiva de nossa gente e através dela, contar muito sobre nós. .
rocailles¹ = estilo artístico inspirado nas formas da natureza, surgido na França no final do século XVII e que adquiriu particular expressão no mobiliário, na cerâmica e na escultura.
Plano Haussmann² = http://www.resumosetrabalhos.com.br/plano-de-haussman.html
Vila Belmiro³ = periodicos.unisanta.br/index.php/hum/article/download/158/144
Fonte: Veríssimo, Francisco Salvador. Bittar, William Seba Mallmann
500 Anos da Casa no Brasil, RJ, EDIOURO, 1999.
* arquiteta urbanista e educadora patrimonial (FAMS)
Plano Haussmann² = http://www.resumosetrabalhos.com.br/plano-de-haussman.html
Vila Belmiro³ = periodicos.unisanta.br/index.php/hum/article/download/158/144
Fonte: Veríssimo, Francisco Salvador. Bittar, William Seba Mallmann
500 Anos da Casa no Brasil, RJ, EDIOURO, 1999.
* arquiteta urbanista e educadora patrimonial (FAMS)
Ótimo texto Marisa!!
ResponderExcluirValeu, professor! :))
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