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A Importância da Educação Patrimonial e o Uso dos Arquivos Educativos


O desenvolvimento de laços entre os arquivos e a educação não depende só da compreensão do papel que a educação deve exercer no mundo contemporâneo, igualmente importante são o reconhecimento do verdadeiro valor dos arquivos como fonte educativa e a vontade de transformar o valor educativo potencial dos arquivos em programas positivos realistas (In: BELLOTO, Heloísa L., 2006, p. 150).





Os arquivos históricos são fontes de pesquisas riquíssimas e pouco difundidas entre a população, profissionais da área de ensino e estudantes de diversas áreas.

Comumente, ao se pensar em pesquisa, as pessoas se encaminham às bibliotecas, centros de pesquisas e a internet. Nos arquivos se encontram a grande parte das fontes primárias que originaram as fontes secundárias utilizadas, como: livros, revistas, jornais, artigos, dissertações, etc. 

A Educação Patrimonial baseia-se nos princípios e na metodologia de conscientizar o indivíduo sobre o universo sociocultural e de toda trajetória histórico-temporal a qual está inserido, sendo um  processo permanente e sistemático que visa o conhecimento, apropriação e valorização da herança cultural.




O trabalho de Educação Patrimonial nos arquivos é possibilitar a difusão e apropriação dessa documentação, podendo ajudar na construção de conhecimentos diversos nas mais variadas áreas de atuações de diversos profissionais e na elaboração de suas pesquisas.

A princípio, seu desenvolvimento tem como objetivo ensinar o respeito ao passado mais do que sua valorização, formando uma sociedade mais sensível às necessidades, a importância da valorização e preservação do patrimônio cultural, colocando-se como agentes diretos na transmissão desses ideais para as gerações futuras. Desse processo também decorre o fortalecimento das identidades individuais e  coletivas.

A parceria dos arquivos e as escolas possibilita uma educação de cidadania onde se cria a responsabilidade pela valorização e preservação do Patrimônio.


Etapas
Recursos/Atividades
Objetivos
1)Observação
Exercícios de percepção visual/sensorial, por meio de perguntas, manipulação, experimentação, mediação, anotações, comparação, dedução, jogos de detetive...
- identificação do objeto/função/ significado;
- desenvolvimento da percepção visual e simbólica.

2) Registro
Desenhos, descrição verbal ou escrita, gráficos, fotografias, maquetes, mapas e plantas baixas.
- fixação do conhecimento percebido, aprofundamento da observação e análise crítica;
- desenvolvimento da memória, pensamento lógico, intuitivo e operacional.

3) Exploração
Análise do problema, levantamento de hipótese, discussão, questionamento, avaliação, pesquisas em outras fontes como bibliotecas, arquivos, cartórios, instituições, jornais, entrevistas.
- desenvolvimento  das capacidades de análise e julgamento crítico, interpretação das evidências e significados.
4) Apropriação
Recriação, releitura, dramatização, interpretação em diferentes meios de expressão como pintura, escultura, drama, música, poesia, texto, filme e vídeo.
- envolvimento afetivo, internalização, desenvolvimento da capacidade de auto-expressão, apropriação, participação criativa, valorização do bem cultural.

Tabela de Etapas Metodológicas- Guia Básico de Ed. Patrimonial. p. 11. IPHAN

Os objetivos da Educação Patrimonial nos arquivos priorizam englobar as funções e necessidades na difusão e divulgação de seus conteúdos e fundos documentais, dando o conhecimento do seu funcionamento e sua função social que garante os direitos da cidadania.As fontes documentais são portadoras de grandes conhecimentos, despertando a reflexão e o senso crítico dos alunos através de seus conteúdos.

 Essa proximidade dos arquivos e as escolas criam um espaço de integração e reflexão das práticas de ensino-aprendizagem.



 A utilização dos documentos como um recurso didático possibilita o contato direto, trabalhando a observação dos tipos de letras, a qualidade dos papéis e tintas, uso de selos e a capacidade motivadora na criação de um cenário instigando o interesse, a curiosidade e futuras pesquisas.

 Os usos dos documentos não contribuem tão somente para o ensino de história, mas uma diversidade de informações, suas mudanças e noções de tempo.

  Cabe ao arquivo o processo de seleção dos documentos inseridos na importância pedagógica em parceria com os docentes. Essa parceria é fundamental para o desenvolvimento das atividades e nas escolhas dos temas.

  A seleção de diversas tipologias dos documentos e diversidade em suas datações pode tornar as aulas práticas mais atrativas.




 A forma como a apresentação dos documentos deve ir além de uma “exposição de vitrinas”.  A escolha de uma metodologia pedagógica, além das etapas das ações do Guia Básico de Educação Patrimonial deve ser pensada como um reforço para uma abordagem criativa e atraente para os documentos.

O trabalho de monitoria na visitação dos arquivos possibilita criar uma ambiência de um período histórico com as mais diversas tipologias documentais (textos, livros, jornais, fotografias, plantas arquitetônicas, mapas,  mídias áudio-visuais), onde o expositor  contribui com uma apresentação difundida pela arte-educação e, assim  desenvolve com os documentos um papel de mediação para ajudar os alunos/visitantes no caminho interpretativo dos documentos, fazendo uma leitura das fontes primárias apresentadas sobre os diversos temas e construindo seu conhecimento. 
  
                           O adulto não pode transmitir a criança o seu modo de pensar. Apenas lhe fornece                                                                  o significado já acabado de uma palavra, em torno do qual a criança forma um                                                                       complexo.” (VYGOTSKY, 2008, p.43).

A criatividade e a linguagem nas apresentações tem um papel facilitador da comunicação e da apreciação do que é mostrado e proposto. Essas atividades ganham importância, pois ajudam na “alfabetização cultural”, onde as múltiplas linguagens podem ser exploradas para a fixação dos conceitos trabalhados e que darão andamento no processo de estudos dos pesquisadores, estudantes e demais visitantes dos arquivos. 

As atividades educativas nos arquivos partem dos seguintes princípios básicos: integração dos recursos pedagógicos aos planos de cursos; aproximação dos documentos, nos aspectos intelectuais e afetivos, exploração do potencial educativo do patrimônio cultural e seu acesso; elaboração de uma seleção de documentos e seus diversos destinos de usos nas áreas eletivas de conhecimentos. 

Contudo, as atividades de Educação Patrimonial nos arquivos privilegia:

a) As ações educativas devem provocar um maior envolvimento da população;
b) Continuidade e aprofundamento nas ações;
c) Não privilegiar públicos específicos. (nesse caso, não somente o grupo de pesquisadores e acadêmicos);
d) Abordagens diferentes para públicos diferentes;
e) Aprendizagem significativa.




As relações criadas entre os arquivos e a integração de atividades com as escolas, acadêmicos, pesquisadores e demais pessoas visam possibilitar uma maior acessibilidade aos documentos, sua valorização e  sua conservação e preservação, gerando uma maior importância do patrimônio documental, os valores ligados à cidadania e a própria criação de uma identidade sócio-histórico-cultural de um povo e sua memória coletiva. 

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